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A relação entre plantas, carbono e abelhas pode ser quantificada

“É por meio desses estudos e de iniciativas como essa que maiores informações sobre os ecossistemas estão sendo construídos”, conta Samara Martins Silva.

Abelhas, plantas e carbono: todos estão relacionados com o meio ambiente. Mas é possível quantificar a relação deles?  Samara Martins Silva, doutora pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP em Piracicaba, e o professor ( in memorian)  Hilton Zarate do Couto, também da Esalq, desenvolveram a patente Método para Determinação de Serviços E cossistêmicos de Carbono e Biodiversidade  e o registro Programação para Quantificação e Relação de Serviços Ecossistêmicos de Carbono e Biodiversidade   

Desenvolvimento

A patente refere-se a um método para determinação de serviços ecossistêmicos de conjuntos de carbono e biodiversidade por meio de, preferencialmente, análise da biomassa e da diversidade de espécies de plantas e de abelhas. Já o registro define as programas utilizadas para quantificar e relacionar os serviços ecossistêmicos treinados na pesquisa.

A  pesquisa também teve obstáculos. “Era uma ideia muito nova surgindo por meio de conceitos como o de serviços e equações alométricas utilizadas para cálculo da biomassa e estoque de carbono, ambos tendo surgido a partir da década de 60, conforme o debate conservadorista do meio ambiente foi avançando ao longo do cenário internacional. Além desses obstáculos sobre a inovação em conceitos, surgiu também a dificuldade de análise, uma vez que eram muitos dados a serem aplicados em um curto período de tempo de mestrado”, conta o especialista.

Porém, a USP auxiliou — e muito — nesse processo, tanto por conta da Agência de Inovação como pela figura do professor Hilton Zarate do Couto, acrescenta Samara: “Eles auxiliaram na resposta rápida, sempre tiraram as nossas dúvidas e, por fim, deram também uma força no ânimo para que tudo ocorrasse da melhor forma. O apoio do meu orientador, ao acreditar que poderia vir a ser uma patente, foi fundamental. Ele foi a base, o meio e o fim de todo o processo. Ele adorava programar, essa atividade o fazia muito feliz. Sinto muito que ele não esteja mais vivo para poder dar esta entrevista e compartilhar como foi essa experiência para ele”.

Para o professor, Samara lembra que a priorização de áreas para conservação era o principal. Ele a estimulou a buscar soluções nas formas de quantificar essas relações e tornar as práticas em estudos e atividades com priorização de áreas com potencial com reconhecimento econômico por sua grande quantidade de serviços ecossistêmicos prestados, funcionando como um “bônus financeiro” para a área ambiental e os serviços conservados.

“Já existiam programas que realizavam esse mapeamento e auxílio na valorização econômica, mas sobre essa relação entre serviços ecossistêmicos, diminuindo o aumento de um serviço conforme o aumento do outro serviço — no nosso caso sequestro de carbono e polinização ou aumento do sequestro de carbono e quantidade maior de biodiversidade — não havia dados e estudos capazes de demonstrar essa relação”, acrescenta ela. 

A patente, inspirada na dissertação de mestrado de Samara, feita também na Esalq, baseia-se no desenvolvimento de um sistema de análise de serviços ecossistêmicos de carbono e biodiversidade com dados do Programa de Análise Ambiental da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, localizada no Rio Xingu, no Estado do Pará. Ela analisou parcelas da região que continham mais de 14 mil árvores e 6 mil abelhas, sendo possível verificar a relação entre carbono e biodiversidade de plantas, de carbono e de abelhas.

Importância

Mas qual a importância de se quantificarem essas relações ecossistêmicas?  Atualmente, o mundo passa por um aquecimento extremo causado pelo aumento da emissão de gases responsáveis ​​pelo efeito estufa — que é um aspecto climático benéfico, mas extremamente prejudicial quando extrapolado. Segundo a Organização Mundial Meteorológica, as temperaturas globais devem bater taxas registradas nos próximos cinco anos por causa desses gases e das características do El Niño.

Por isso, saber identificar e quantificar as relações ecossistêmicas entre diversos componentes ambientais é importante. Ter parâmetros numéricos e ferramentas que podem ajudar a calcular, por exemplo, a proporcionalidade de biodiversidade e presença de carbono é relevante na hora de ações planejadas com o objetivo de conservação ambiental.

”As empresas, governos e ONGs devem utilizar uma área de altos valores para conservação em suas práticas ESG — em português Governança Ambiental, Social e Corporativa — e é aqui onde a teoria desenvolvida por esse pedido de patente encontra a prática: na análise, quantificação e a relação dessas provisões de diferentes serviços ecossistêmicos capazes de comparar ecossistemas e suas diferentes capacidades de provisão desses serviços”, explica Samara.

Mas, como em toda a ciência, mais estudos ainda são necessários para verificar como essas relações ocorrem em outros ecossistemas, já que o pedido de patente se baseou no estudo realizado na Amazônia paraense e nem todos os ecossistemas aparentam o mesmo comportamento. De toda a forma, como ressalta Samara, “é por meio desses estudos e iniciativas como essa que maiores informações sobre os ecossistemas estão sendo construídas para que melhor possamos manejá-los em cenários de extrema distribuição antrópica e desafios climáticos”

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